Advogado da viúva de Vladimir Herzog: quem foi Sergio Bermudes, jurista capixaba morto nesta segunda (27)
27/10/2025
(Foto: Reprodução) Advogado Sergio Bermudes morre no Rio
Morto nesta segunda-feira (27), o jurista Sergio Bermudes foi um dos mais importantes advogados do Brasil, sendo conhecido especialmente por ter representado a viúva de Vladimir Herzog na causa movida contra a Ditadura Militar. O processo culminou no reconhecimento de que o jornalista foi assassinado quando estava sob a custódia do Exército.
Bermudes tinha 79 anos e estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, Zona Sul do Rio. O hospital confirmou a morte do jurista, mas informou que a família não autorizou a divulgação de mais detalhes.
Desde abril de 2020, o advogado enfrentava complicações decorrentes da Covid-19.
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Apesar da carreira no Rio de Janeiro, Sergio Bermudes era capixaba, natural de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo.
Em janeiro de 2020, o advogado doou R$ 1 milhão apara ajudar na reconstrução da cidade natal, atingida por uma enchente que destruiu casas e lojas.
“Recebi vídeos e fotos e fiquei muito triste, muito chocado. Vi um pedaço da minha história ser atingida. A Praça Jerônimo Monteiro, as pontes onde passei, a escola onde estudei, tudo alagado", declarou na ocasião.
Bermudes formou-se em Direito pela então Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) em 1969. No mesmo ano, fundou o escritório Sergio Bermudes Advogados — que atua nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte nos setores de contencioso estratégico, arbitragem e disputas judiciais de alta complexidade.
Já no ano seguinte, patrocinou a causa da viúva de Vladimir Herzog, Clarice Herzog, que acarretou o reconhecimento de que o jornalista fora assassinado quando estava sob a custódia do Exército. A causa é considerada como a primeira derrota da Ditadura Militar no Judiciário.
Na década de 1980, Bermudes chegou a representar Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, durante os interrogatórios de Amilcar Lobo, médico que atuava com militares.
Advogado Sergio Bermudes discursa em homenagem
Evelyn Soares/ AMAERJ
Docência
Bermudes também atuava como professor de Direito. Ele deu início à sua carreira docente em 1970, no magistério universitário, como Professor Assistente de Teoria Geral do Estado da Faculdade de Direito da Universidade do Estado da Guanabara, e como professor regente da cadeira de Direito Processual Civil da Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, da qual se tornou titular, aprovado pelo Conselho Federal de Educação, em 1971.
Em 1978, assumiu a cadeira de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, integrando, também, o Conselho de Desenvolvimento dessa Universidade.
Ao longo de sua carreira, integrou inúmeras bancas de concursos para ingresso na magistratura, na Procuradoria do Estado do Rio de Janeiro, na Procuradoria do Município do Rio de Janeiro e em outros cargos públicos, bem como realizou centenas de conferências em praticamente todas as faculdades de direito do Brasil, em seções da Ordem dos Advogados, em congressos e seminários e em outros eventos jurídicos, no país e no exterior.
Também exerceu a função de chefe de gabinete do presidente do Conselho Federal da OAB Raymundo Faoro (gestão 1977–1979)
A partir da década de 80, sua atuação envolveu a defesa de grandes companhias em questões como a disputa bilionária dos planos econômicos (Planos Collor, Bresser e outros) que opôs poupadores e bancos. Este caso histórico, centrado na remuneração das cadernetas de poupança das décadas de 80 e 90, foi finalmente resolvido por meio de um acordo em 2017.
Por nomeação do governo federal, em 1985, integrou a comissão de cinco processualistas designada para proceder à revisão do Código de Processo Civil. Exerceu, por dois anos, o cargo de Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.
Repercussão
Em nota, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil lamentou o falecimento de Bermudes e decretou luto oficial de três dias.
“Sergio Bermudes reuniu talento, coragem e rigor técnico em uma trajetória que honra a advocacia brasileira. Sua atuação firme em momentos-chave da nossa história deixa um legado de integridade e compromisso com a profissão”, afirmou o presidente da OAB Nacional, Beto Simonetti.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, também decretou luto oficial de três dias no Espírito Santo: "Lamento profundamente o falecimento do advogado e jurista capixaba, cachoeirense Sergio Bermudes, referência nacional no Direito e orgulho para o nosso Estado. Em homenagem à sua trajetória, decretarei luto oficial de três dias em todo o Espírito Santo. Minha solidariedade à família, aos amigos e à comunidade jurídica."
O governador do estado do Rio, Cláudio Castro, também manifestou pesar: "O Brasil perdeu hoje Sergio Bermudes, um dos maiores nomes na advocacia. Sua trajetória foi marcada pela inteligência, pela dedicação ao Direito e pela construção de um dos escritórios mais respeitados do país. Bermudes deixa um legado de excelência profissional e compromisso com a Justiça, que continuará a inspirar gerações. Neste momento de dor, expresso minha solidariedade aos familiares, amigos e colegas de profissão".
Sergio Bermudes, durante palestra no Maranhão
Reprodução/TV Mirante
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