Arsenal do crime organizado fica mais modernizado com pistolas e fuzis, indica Sou da Paz
08/12/2025
(Foto: Reprodução) Arsenal do crime organizado fica mais modernizado com pistolas e fuzis, indica Sou da Paz
O crime organizado tem se municiado nos últimos cinco anos de armas mais novas e mais modernas, segundo estudo inédito divulgado pelo Instituto Sou da Paz, que analisou armamentos apreendidos com criminosos na região Sudeste.
A pesquisa identificou que o percentual de pistolas nas mãos do crime organizado cresceu em relação ao de revólveres entre 2018 e 2023 em São Paulo, Minas, Rio e Espírito Santo. Mais modernas, as pistolas passaram de 25% do total apreendido em 2018 para 36% em 2023. Enquanto os revólveres foram de 42% para 37,6% no mesmo período.
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Há diferenças entre os dois tipos de armas:
pistolas carregam mais balas (de 12 a mais de 20) em seus pentes, possuem menor tempo entre um disparo e outro (a chamada cadência de tiro) e tem uma potência do tiro maior (453,56 joules nos modelos 9mm, por exemplo);
revólveres têm de 5 a 8 balas em seus tambores, que demoram mais tempo para ficarem preparados até o próximo tiro, e apresentam potência inferior (342 joules, no caso do revólver 38).
Troca de calibre
Especialistas têm observado uma transformação significativa no perfil das armas em circulação. Essa mudança traz implicações diretas para a letalidade e a segurança pública, segundo os pesquisadores do Sou da Paz.
"O que mudou, e o que estamos chamando de modernização, é na categoria do porte de arma. Estamos vendo uma substituição muito rápida dos revólveres pelas pistolas, uma mudança muito importante", afirma Bruno Langeani, consultor sênior do Instituto Sou da Paz.
"A gente está falando de uma troca do calibre 38 pelo calibre 9 mm, que é um calibre que dispara com 40% mais energia, então ele vai ser mais letal, vai gerar mais bala perdida, é um calibre que preocupa mais", exemplifica o especialista.
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Outras armas que tiveram aumento nas apreensões entre 2018 e 2023 foram os fuzis (de 1,6% para 2,9%) e as submetralhadoras (de 0,7% para 1,4%).
Mesmo ainda abaixo de revólveres e pistolas — que juntos somam 68,5% do mercado ilegal — pesquisadores alertam para a presença crescente de armamento de grosso calibre na região.
"O movimento acompanha a modernização do mercado ilegal de armas no país, impulsionada pela maior facilidade de acesso ao armamento no período", aponta o estudo.
Balas de calibre .380 (à esq.) e de 9mm (à dir.)
Luiz Gabriel Franco/g1
O levantamento também analisou o “time to crime”, intervalo entre a fabricação da arma e sua apreensão.
"Em todos os estados analisados, as armas ficaram mais novas. Armamentos recentes estão entrando mais rápido no crime", afirma Langeani.
Segundo o Instituto Sou da Paz, um dos fatores é o desvio de armas compradas por caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), que tiveram acesso facilitado durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
"No Espírito Santo, por exemplo, armas apreendidas com até dois anos de fabricação passaram de 33 em 2018 para 200 em 2023", destaca.
Cidades com mais armas apreendidas por habitantes
A pesquisa mostra quais são as cidades que tiveram mais armas apreendidas por grupo de 100 mil habitante, taxa que ajuda a relacionar o número bruto das apreensões com a população local. Veja abaixo:
Espírito Santo
Cidades do ES com mais armas apreendidas por habitante
Minas Gerais
Cidades de MG com mais armas apreendidas por habitantes
Rio de Janeiro
Cidades do RJ com mais armas apreendidas por habitantes
São Paulo
Cidades de SP com mais armas apreendidas por habitantes
Revólver 38 (à esq.) e pistola 9mm (à dir.)
Luiz Gabriel Franco/g1