Fungo em fezes de aves e morcegos pode ter causado contaminação misteriosa em hospital do ES
03/11/2025
(Foto: Reprodução) Contaminação misteriosa em hospital no ES é investigada por autoridades de saúde
Um fungo que costuma estar presente em fezes de aves (como pombos) e morcegos, foi identificado em uma das amostras de funcionários do Hospital Santa Rita, em Vitória, onde ocorreu um surto que levou à internação de quase cem pessoas na ala oncológica. Segundo a Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa), essa é a principal linha de investigação dos casos.
Segundo o diretor do Lacen, Rodrigo Rodrigues, 11 amostras de sangue foram enviadas à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para análise. O resultado foi divulgado nesta segunda-feira (3) pelo Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen/ES), mas ainda não é conclusivo.
Apenas das amostras deu positivo para o tipo histoplasma. "O quadro clínico desses pacientes é compatível com a infecção por esse fungo, mas o resultado ainda não encerra a investigação", disse Rodrigues.
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"Nos testes que rodamos na Fiocruz, testes de sangue, onde foram testadas 11 amostas, todas elas de funcionários, em um desses funcionários encontramos esse fungo, o histoplasma. Esse fungo é um fungo normalmente advindo de fezes de morcegos ou aves, como pombos. Esse fungo faz muito sentido nesse investigação por conta dos sintomas do quadro clínico dos pacientes e pelo fato de não haver transmissão entre pessoas", disse o secretário de Saúde, Tyago Hoffman.
A infecção por Histoplasma capsulatum ocorre geralmente pela inalação de esporos que se espalham pelo ar. Em pessoas saudáveis, pode provocar sintomas parecidos com os de uma pneumonia leve, como febre, dor no corpo e tosse. O risco aumenta em pacientes com baixa imunidade — como os que estavam internados na unidade oncológica.
"Pode ter tido uma vedação ineficiente. Os esporos passam pela janela e fazemos vedação e seguimos protocolos com engenharia. Não sabemos o que aconteceu e pode ter acontecido algo nesse sentido. Vamos investigar, mas os esporos podem ter vindo do ar", Carolina Salume, infectologista do Hospital Santa Rita.
Fungo em fezes de aves e morcegos pode ter causado contaminação misteriosa em hospital do Espírito Santo
Divulgação/Sesa
Segundo a secretaria, os casos suspeitos já somam 93, sendo cinco pessoas internadas e 88 em monitoramento. Destas, 76 são trabalhadoras do Hospital Santa Rita, 11 acompanhantes e seis pacientes (que estavam no local para tratar outras doenças e acabaram infectados).
Dos cinco internados, dois estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e três na enfermaria. Quatro deles são funcionários do Hospital Santa Rita, e um é paciente da unidade de saúde.
O hospital é referência no tratamento oncológico no Espírito Santo e atende pacientes da rede pública e privada.
Amostra ambiental também teve bactéria isolada
Durante a investigação, uma amostra de água de um bebedouro do hospital apresentou a presença da bactéria Burkholderia. O resultado, porém, foi considerado um caso isolado: nenhum paciente testou positivo para essa bactéria, e outras coletas da mesma rede de água deram negativo.
"A Burkholderia causa infecções mais graves do que as observadas nesses casos. Como só foi encontrada em uma amostra ambiental e não em pacientes, é improvável que tenha relação direta com o surto", explicou Rodrigues.
Entenda o caso
Os primeiros casos foram detectados em 19 de outubro, em funcionários da ala oncológica do Hospital Santa Rita que começaram a apresentar sintomas semelhantes aos de uma pneumonia.
Os primeiros sintomas foram gripais. A principal suspeita é de que a contaminação esteja associada a alguma causa ambiental, por exemplo, ligada a falhas nos sistemas de água ou ar-condicionado.
Mais de 300 patógenos, entre vírus, fungos e bactérias, estão sendo testados pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Espírito Santo (Lacen/ES) para descobrir a origem dos casos de contaminação.
Hospital Santa Rita, Vitória, Espírito Santo.
Ricardo Medeiros/A Gazeta
Confira abaixo uma cronologia do caso:
📅 13 de outubro (terça-feira): início dos sintomas
Profissionais da ala oncológica do Hospital Santa Rita começaram a apresentar sintomas gripais intensos, como febre alta, dor no corpo, dor de cabeça e dificuldade para respirar.
📅 17 a 19 de outubro (sexta a domingo): evolução dos casos
Entre o terceiro e o quarto dia de doença, os sintomas evoluíram para dor torácica, e os funcionários procuraram atendimento no hospital.
Foram realizados exames de imagens e o hospital notou semelhanças entre os padrões da tomografia, o que acendeu um alerta de que se tratava de algo diferente que acometia os profissionais.
📅 20 de outubro (segunda-feira): governo do estado é informado
Sesa tomou conhecimento do surto, às 7h. Logo em seguida, uma equipe da vigilância se deslocou para o hospital para que amostras fossem colhidas com o objetivo de identificar de onde o surto estaria vindo.
Neste dia, a informação confirmada era de 14 internados.
📅 22 de outubro (quarta-feira): amostras para análise
A ala oncológica foi isolada preventivamente, e pacientes foram transferidos para outros setores do hospital.
Sesa continuou a coleta de amostras de água, ar, roupas de cama e superfícies para análise.
📅 23 de outubro (quinta-feira): recomendações técnicas
Um ofício foi encaminhado pela Sesa com recomendações técnicas orientando profissionais da saúde sobre reforço nas medidas de segurança principalmente ao atender/internar funcionários do Hospital Santa Rita.
📅 24 de outubro (sexta-feira): Sesa confirma investigação
As internações dos profissionais de saúde afetados já ocorriam há mais de uma semana quando o caso se tornou público, no dia 24, com a confirmação da Sesa sobre uma investigação de contaminação biológica no Hospital Santa Rita.
A secretaria informou que as hipóteses mais prováveis envolvem bactéria ou fungo, com possível origem em sistemas de água ou ar-condicionado.
O secretário de Saúde, Tyago Hoffmann, afirmou que os sintomas se assemelham a pneumonia grave, mas ainda sem agente causador identificado.
Confirmação de que nenhum paciente oncológico está entre os contaminados.
📅 25 de outubro (sábado): sem transmissão entre contaminados
Até este momento, eram 26 casos de contaminação confirmados.
A Sesa e o hospital reforçaram que não há transmissão interpessoal confirmada, ou seja, profissionais não passaram a doença para familiares, reforçando a hipóteses de causa ambiental.
A ala oncológica continuou isolada e o hospital manteve os atendimentos e cirurgias eletivas, embora alguns médicos tenham adiado procedimentos por precaução.
Outros hospitais como a unidade da Unimed Espírito Santo e o Vitória Apart tornam mais rígido o protocolo de prevenção de contaminação.
📅 26 de outubro (domingo): aumento de casos suspeitos
A Sesa informou que passou a investigar 12 novos casos suspeitos, incluindo pacientes e acompanhantes. Desses novos casos, duas pessoas estavam em UTI e dez em enfermarias.
O número total de funcionários infectados chega a 33.
A direção do hospital divulgou nota dizendo que “segue colaborando com as autoridades de saúde” e reforçou que os pacientes oncológicos permanecem estáveis.
📅 27 de outubro (segunda-feira): apuração de responsabilidade
Técnicos do Ministério da Saúde da equipe epidemiológica são enviados para Vitória para acompanhar o caso em uma sala de situação montada no hospital. Os agentes vão enviar amostras dos infectados para laboratório de referência da Fiocruz no Rio de Janeiro, para pesquisa de agentes biológicos compatíveis com os sinais e sintomas dos pacientes.
Sesa informou que um, dos três centros cirúrgicos do Hospital Santa Rita, foi fechado.
A secretaria anunciou a abertura de uma apuração administrativa para identificar possíveis responsabilidades do hospital na contaminação.
Também determinou que o Hospital Santa Rita apresente relatórios sobre rotinas de higienização, manutenção dos sistemas de água e ar-condicionado, além de planos de contingência.
Amostras coletadas seguem em análise laboratorial para identificação do agente causador. O secretário estadual de Saúde, Tyago Hoffmann, afirmou que boa parte dos vírus já foram eliminados, e as doenças Covid-19 e Influenza A e B foram descartadas.
Segundo o hospital, a situação segue sob monitoramento, e nenhum novo caso foi registrado desde o dia 22.
📅 28 de outubro (terça-feira): pacientes entre os suspeitos infectados
Número de casos suspeitos aumenta em 43%: sobem de 48 para 69.
O secretário de saúde explica que aumento considerável no número de notificações ocorreu após novos critérios adotados pelo Ministério da Saúde.
Os novos casos já existiam, mas foram notificados somente agora.
Mudança ocorreu após nova nota técnica ser divulgada e uma reclassificação de pacientes já internados ser realizada.
A Secretaria investigava 69 casos suspeitos: 46 funcionários, 8 pacientes, 9 acompanhantes e 6 sem informação.
Entre os internados, 5 estão na UTI, sendo um deles um paciente oncológico.
Ala oncológica segue isolada.
Nenhum novo caso desde 22 de outubro. O aumento do número de casos se dá pela mudança na forma em que os casos são notificados.
Agente causador ainda não identificado, mas hipótese ambiental é a mais provável.
Sesa apura responsabilidades do hospital e mantém acompanhamento diário.
Exames feitos no Lacen para detecção de doenças
Divulgação/SESA
🎯 Responsabilização
O Hospital Santa Rita atende à rede pública e privada e é referência no tratamento de câncer. Uma sindicância será aberta para apurar responsabilidades, e o Ministério da Saúde acompanha o caso, com amostras sendo enviadas para análise na Fiocruz.
"Nós vamos apurar se houve sim alguma falha do hospital, se houve alguma demora que dificultou a identificação ou que gerou, por exemplo, uma piora do quadro clínico desses pacientes", disse o secretário estadual de Saúde, Tyago Hoffmann.
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