Indígenas bloqueiam ferrovia no ES e alegam exclusão de acordo de reparação após desastre de Mariana
04/11/2025
(Foto: Reprodução) Indígenas bloqueiam ferrovia em Aracruz
Indígenas da etnia Tupiniquim bloqueiam o ramal ferroviário Piraqueaçu, que passa pelo município de Aracruz, no Norte do Espírito Santo, desde o dia 23 de outubro. Cerca de 200 famílias participam da manifestação, que cobra a inclusão dos povos indígenas nos acordos de reparação pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, ocorrido em 2015. Nesta terça-feira (4) o grupo ainda continuava no local.
Segundo os manifestantes, as comunidades indígenas não foram ouvidas de forma adequada durante a elaboração dos novos termos do acordo de reparação. Eles afirmam que não tiveram oportunidade de diálogo com as empresas e órgãos responsáveis.
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“O impacto que o Rio Doce sofreu não tem prazo, não tem limite para ser restituído, para ser devolvido aquilo que nos foi retirado. Mas eles estão colocando limites nos nossos direitos, não estão de fato nos escutando. O que a gente espera é que venham soluções efetivas e permanentes, e que todos sejam ouvidos”, disse uma representante do grupo à TV Gazeta, mas não quis revelar o nome.
A mobilização é mais um capítulo dos impasses entre a comunidade indígena e os responsáveis pelo acordo. Nos últimos cinco anos, as paralisações promovidas pelos Tupiniquim já somam cerca de 100 dias.
Indígenas bloqueiam ferrovia em Aracruz e cobram inclusão em acordos de reparação por desastre de Mariana. Espírito Santo.
TV Gazeta
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Ferrovia fechada causa prejuízo de mais R$ 50 milhões
A interdição afeta diretamente o transporte de minério e celulose, principais cargas movimentadas no trecho, e já causa prejuízos estimados em R$ 50 milhões ao setor produtivo do Espírito Santo.
Empresas que utilizam a ferrovia para escoar a produção estão com o transporte paralisado ou buscam rotas alternativas.
Em nota, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) afirmou que o bloqueio coloca em risco investimentos e empregos e enfraquece a posição do estado como um dos eixos logísticos mais importantes do país.
Indígenas bloqueiam ferrovia em Aracruz e cobram inclusão em acordos de reparação por desastre de Mariana. Espírito Santo.
TV Gazeta
Justiça deve ser acionada
A Secretaria de Estado de Recuperação do Rio Doce, criada em 2025 para gerir os recursos provenientes do Novo Acordo do Rio Doce, homologado em 2024, informou que a "responsabilidade sobre o pagamento de indenizações individuais ou de grupos sociais continua sendo de inteira responsabilidade das empresas que causaram o desastre ambiental de Mariana".
Pessoas e grupos que acreditam que não foram devidamente contempladas nestas indenizações individuais devem procurar a Justiça para exigir seus direitos.
Ainda de acordo com o Novo Acordo do Rio Doce, a responsabilidade do Governo do Estado é de investir recursos para obras de saneamento, recuperação ambiental e infraestrutura, determinações que estão devidamente cumpridas em Aracruz.
O que diz a Samarco
A Samarco informou que o novo acordo do Rio Doce prevê consultas públicas aos povos Tupiniquim e Guarani para decidir sobre os valores destinados às comunidades.
A empresa disse ainda que acompanha a situação, mantém diálogo aberto e reafirma o compromisso com a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão.
Inicialmente, essas medidas ficaram a cargo da Fundação Renova, entidade criada e mantida pelas mineradoras – Samarco e acionistas, Vale e BHP. No entanto, com a assinatura de um novo acordo de reparação com o poder público, em 2024, a Renova foi extinta, e as ações ambientais passaram a ser responsabilidade da Samarco.
Bloqueio continua
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também foi procurada para dizer se acompanha o caso e não respondeu até a publicação da reportagem.
Os indígenas afirmam que o bloqueio vai continuar. “Não estamos aqui pedindo dinheiro para ninguém. Queremos os nossos direitos. Queremos ser, de fato, ouvidos. Somos um povo de luta e não vamos sair daqui enquanto não houver soluções”, declarou a representante.
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