Justiça ouve PMs acusados de jogar adolescente da Segunda Ponte no ES; versões divergem
23/10/2025
(Foto: Reprodução) Policiais apresentam versões sobre morte de jovem na Segunda Ponte no ES
Os três policiais militares acusados da morte do adolescente Kaylan Ladário dos Santos, de 17 anos, foram ouvidos em audiência de instrução na Justiça. Os militares são suspeitos de jogar o jovem da Segunda Ponte, entre Vitória e Cariacica, em fevereiro deste ano. A reportagem teve acesso aos depoimentos, que foram ouvidos no dia 14 deste mês, e que revelam contradições entre os PMs.
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Kaylan, que era menor de idade, havia sido levado à Delegacia Especializada de Adolescentes em Conflito com a Lei (Deacle) por um mandado de apreensão vencido. O delegado de plantão solicitou aos policiais que o levassem de volta para casa, já na madrugada.
Imagens de câmeras de segurança (veja abaixo), da madrugada do dia 18 de fevereiro, mostram o carro da polícia parado na Segunda Ponte. Um objeto é arremessado no mar, a viatura se afasta e, na água, há um movimento que seria de Kaylan enquanto agonizava já que ele não sabia nadar, segundo a família. O corpo do jovem foi encontrado dia seguinte na orla de Cariacica.
Vídeo mostra PMs acusados de morte de adolescente em ponte
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Versões dos policiais
Os depoimentos dos três policiais trouxeram narrativas diferentes sobre a abordagem e o ocorrido na ponte:
Cabo Franklin Castão Pereira (chefe da equipe)
Cabo Franklin Castão Pereira
Reprodução/TV Gazeta
O cabo Castão alegou que Kaylan estava "muito nervoso e agressivo", o que motivou a parada na ponte para colocá-lo no compartimento de segurança do carro.
Disse ainda que as imagens da câmera de segurança mostram o momento em que ele joga uma pedra na água, o que teria sido deturpado pelos veículos de imprensa.
Cabo Castão: "Quando a viatura parou, o Kaylan, ele abriu a maçaneta e desceu para a parte de trás da viatura. Foi esse momento que eu desci. O primeiro militar que desce sou eu. Eu desci e fechei a porta dele e, como eu pisei numa pedra no chão, eu peguei essa pedra e joguei fora, que é até... até comentei com o meu advogado. É até o momento que a mídia pega esse vídeo e joga dizendo que é uma pessoa sendo jogada, circula em vermelho, entendeu? E isso foi uma pedra que eu joguei. (...) antes que eu, que eu tomasse qualquer atitude mais drástica em relacionada ao desespero dele ali no parapeito, ele passou a perna e pulou. Foi isso que aconteceu."
O cabo admitiu não ter acionado o socorro.
"Não acionei porque eu, eu vi que ele estava nadando, entendeu? Foi uma, foi uma reação que eu tive. Quando eu vi ele nadando, pra mim ele, dali ele sairia."
Soldado Luan Eduardo Pompermayer Silva (motorista da viatura)
Soldado Luan Eduardo Pompermayer Silva
Reprodução/TV Gazeta
O soldado Pompermayer, motorista do carro, contradisse o chefe da equipe, afirmando que o jovem estava calmo e apenas "agitado" por solicitar a todo momento que não fosse deixado pelos PMs no local em que ele foi, inicialmente, abordado.
Soldado Pompermayer: "[...] nesse momento eu tava passando pela Segunda Ponte. Aí o cabo Castão mandou eu parar a viatura. Aí, nesse contexto ali, eu entendi que ele havia mandado eu parar a viatura para colocar ele [Kaylan] no cofre. [...] Ele, ele só estava um pouco agitado, então, só estava um pouco agitado. Tanto é que, assim, em momento nenhum ele desacatou, desobedeceu. No momento da abordagem foi tranquilo."
O soldado Pompermayer também relatou um pedido do cabo Castão.
O soldado Luan Pompermayer, também disse, no depoimento, que o cabo Castão, que era chefe da guarnição, teria pedido para que o soldado Luan e o soldado Leonardo falassem que o jovem havia fugido, ou seja, teria pedido para que eles combinassem um versões para o depoimento.
Soldado Leonardo Gonçalves Machado
Soldado Leonardo Gonçalves Machado
Reprodução/TV Gazeta
O terceiro policial, soldado Machado, disse que não viu o momento do ocorrido, pois foi mandado de volta para a viatura.
"Assim que eu cheguei, como eu falei, percebi o comportamento do Kaylan, parecido com o que estava dentro da viatura, e o cabo Castão mandou eu me afastar e voltar para a viatura, que ele estaria verbalizando com o Kaylan. Eu voltei para a viatura. Eu informei o Pompermayer, logo depois, o cabo Castão entrou dentro da viatura. Ele entrou dentro da viatura e falou para tocar para o batalhão porque o menino tinha fugido. O Kaylan tinha fugido."
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Mãe de Kaylan contesta versões
Leicester Ladário, mãe de Kaylan, classificou as narrativas como inverídicas, reforçando que o filho não sabia nadar e estava voltando para casa, o que o desmotivaria a fugir.
"Se ele tivesse fugido, ele teria fugido na hora da abordagem, quando eles pegaram ele no primeiro momento, antes de levar pro Deacle. Ele estava indo pra casa. E o [soldado] Luan [Pompermayer] ele fala que o meu filho, ele estava muito tranquilo, que ele foi respeitoso, ele não faltou com respeito em momento nenhum, que ele estava tranquilo dentro da viatura. Então, não faz sentido meu filho fugir. Não, não, ele jamais teria feito isso"
A mãe de Kaylan também responsabilizou os policiais civis da Deacle pelo ocorrido com o filho dela.
"É dilacerante, até mesmo porque o erro não veio primeiro dos policiais, veio primeiro dos dos oficiais civis da Deacle, que liberaram ele aquela hora da madrugada para ser conduzido. Isso não existe, deveria ter sido liberado comigo. Foi uma sequência de erros. (...) Então, assim, foi muita covardia, foi uma covardia muito grande."
O g1 não conseguiu falar com as defesas dos acusados.
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