Lixo cria 'rochas de plástico' e ameaça arquipélago quase inabitado mais distante da costa brasileira

  • 12/10/2025
(Foto: Reprodução)
Entenda como lixo e rochas de plástico se espalham pela Ilha da Trindade Pesquisadores descobriram que rochas feitas de plástico na Ilha de Trindade, o ponto mais distante e isolado do Brasil, estão se espalhando. Agora, fragmentos dessas rochas chegaram a ninhos de tartarugas-verdes. O local é a maior área de desova dessa espécie no país. As "rochas de plástico" foram descobertas em uma pesquisa inédita iniciada em 2019. Elas são formadas, principalmente, por fragmentos de cordas de pesca que se fixaram na superfície da ilha. Mas também por restos de borracha, por exemplo. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp A ilha é um paraíso quase inabitado e fechado ao turismo, ainda assim, sofre com a poluição ambiental. Além das cordas impregnadas nas pedras, sapatos, vidros, madeiras, garrafas com rótulos asiáticos e diversos tipos de plásticos podem ser vistos em vários pontos de Trindade. Lixo levado à ilha pelas correntes marítimas. Na última ação de coleta, foram retirados cerca de 300 kg de lixo da ilha. 🏝️ A Ilha da Trindade fica a 1.160 quilômetros da costa e é uma Área de Proteção Ambiental (APA). O acesso é controlado pela Marinha, e o local abriga até 46 pessoas, entre militares e pesquisadores, que ficam períodos de até 4 meses. Para chegar à ilha são 4 dias de viagem em um navio de guerra da Marinha. 🌊 Trindade faz parte de uma cadeia de montes submarinos vulcânicos chamada Vitória-Trindade, que termina na Ilha de Martin Vaz. Juntas, Trindade e Martin Vaz formam um arquipélago que é o ponto mais afastado do litoral brasileiro. O local abriga grande biodiversidade e possui espécies que só existem lá. Após descobrirem a existência dessas rochas de plástico, os pesquisadores detectaram agora que elas estão aumentando de tamanho e atingindo novas áreas. Fragmentos foram encontrados junto a ninhos das tartarugas, comuns no arquipélago. Os especialistas vão analisar como esse plástico pode interferir no ecossistema local, como os resíduos impactam a reprodução e a vida desses animais. "Nós conseguimos observar que essas rochas estão se espalhando e se depositando, sendo soterradas, enterradas, até chegar aos ninhos de tartaruga. Nossa descoberta evidencia que a poluição plástica já penetrou não apenas os ecossistemas marinhos", disse a pesquisadora da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e da Universidade de Western (Canadá), Fernanda Avelar. A ideia é analisar alguns efeitos práticos na saúde desses animais, como, por exemplo, a possível ingestão de plástico pelas tartarugas e até a mortalidade delas. "Estudamos o impacto ambiental do local onde elas vivem e atuam como agente. Então, esses animais podem sim sofrer consequências diretas com as rochas se espalhando dessa forma", destacou Fernanda. Garrafas de plástico com rótulos asiáticos foram encontradas na Ilha da Trindade, Espírito Santo Mariana Ughini/Voluntária do ICMBio Uma certeza os pesquisadores já têm: as correntes marítimas são as responsáveis por levar o lixo deixados em praias pelo mundo até Trindade. Resíduos descartados por embarcações também acabam poluindo o arquipélago. No período de um mês, entre julho e agosto, foram recolhidos 446 itens, entre eles: 🥿 Borracha (encontrada principalmente em calçados); 🌳 Madeira; 🛠️ Metal; 🎣 Nylon; 🥤 Plástico; 🍾 Vidro Para tentar evitar que a poluição se espalhe, voluntários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Marinha do Brasil realizam coletas frequentes para retirada do lixo. A última ação feita na ilha, que retirou os quase 300 kg de lixo, contou com a ajuda de 32 militares e pesquisadores de diversos projetos durante uma coleta no Dia Mundial da Limpeza, em setembro. Pesquisadora descobriu que rochas são compostas por nylon de rede de pesca. Reprodução/Fernanda Avelar Santos Expedição Trindade Essa é a quarta reportagem da série especial do g1, "Expedição Trindade". A equipe embarcou em um navio da Marinha até a ilha. Quatro reportagens, de quinta (9) a este domingo (12), mostraram pesquisas inéditas na ilha, entre elas, como corais podem ajudar na luta contra o câncer, samambaias gigantes testadas como pesticidas naturais e a rotina de quem trabalha no arquipélago. Praia das Tartarugas, na Ilha da Trindade, Espírito Santo, recebe grande quantidade de lixo Ramon Porto/TV Gazeta Paraíso ameaçado Um levantamento do ICMBio apontou que o número de partículas plásticas no oceano aumentou mais de dez vezes entre 2005 e 2019. De acordo com o órgão, ilhas oceânicas e montes submarinos são conhecidos por sua importância no ciclo de vida e no ciclo migratório da maioria das espécies da megafauna marinha, e funcionam como áreas de repouso, alimentação e reprodução para vários peixes, aves, mamíferos e tartarugas marinhas. Militares e pesquisadores participam de coleta de lixo realizada na Ilha da Trindade, Espírito Santo ICMBio Por ficar em uma área isolada e em uma localização remota, a ilha apresenta grande biodiversidade com espécies existentes apenas em Trindade. A variação é tão grande que certos seres únicos como peixes ainda são descobertos. É o caso do Acyrtus simon, espécie de peixe-ventosa, que chamou a atenção dos pesquisadores pelas cores em tons de rosa e seu hábito de se fixar nos locais para não ser levado pela correnteza. E é nesse ambiente diverso que o plástico se instalou. Segundo o órgão, na ilha são encontrados lixo de diversas origens e nacionalidades, principalmente nas praias dos Andradas, das Tartarugas e dos Cabritos, que são as praias de mais fácil acesso. "Apesar de não haver trabalhos conclusivos acerca da problemática, o lixo provavelmente chega através de grandes massas d’água que se deslocam pelos oceanos, as chamadas correntes marinhas. Estes resíduos também podem ser descartados irregularmente por grandes embarcações oceânicas", disse o ICMBio. Em 2024 e 2025, a maioria dos resíduos encontrados foram fragmentos de plástico rígido e nylon (cordas), além de outros como isopor, madeira e borracha, classificados quanto ao uso como: náutico, alimentação, higiene e limpeza, vestuário e calçado. Os resíduos gerados pela população da ilha são separados e enviados para reciclagem e, os demais, são incinerados. Os resíduos orgânicos são compostados. O ICMBio destacou que o monitoramento de resíduos na Ilha da Trindade ainda é preliminar e que os dados coletados será utilizado para ajudar pesquisas. A estudante de biologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Mariana Ughini, foi até a ilha como voluntária do ICMBio e realizou coletas do lixo encontrado em Trindade entre os meses de julho e agosto. "São muitas garrafas, fragmentos de plástico. A gente encontra pedaços grandes, pequenos, de coisas que a gente nem sabe se eram embalagens, tonéis, vários tipos de plástico. Até peneirando a gente pode encontrar coisas que são tão pequenas quanto um grão de areia. Tem uma barreira de plástico onde a maré chega justamente no local de desova das tartarugas. É um problema muito sério", destacou. Ilha da Trindade Arte/g1 Rochas de plástico Uma vez que os resíduos chegam ao oceano, eles tendem a se decompor em pedaços cada vez menores, até ficarem minúsculos, como os chamados microplásticos. E essas pequenas partículas começaram a ser encontradas atreladas as rochas existentes na ilha. A pesquisadora Fernanda Avelar publicou o primeiro artigo sobre a descoberta de rochas de plástico na ilha. A geóloga identificou que o material mais comum atrelado às rochas era especificamente corda de pesca. O plástico se fixou onde havia rocha e areia e se incorporou na parte de cima da superfície. Com isso, conglomerados foram formados, ficando difícil, quase impossível, de tirar o plástico da rocha. Isso mostra que são detritos plásticos com aparência de rocha. Materiais encontrados durante coleta de lixo realizada por pesquisadores e militares na Ilha da Trindade, Espírito Santo ICMBio As rochas analisadas têm uma aparência esverdeada e se destacam das outras. "É fácil reconhecer uma rocha gerada a partir da ação do homem. É só identificar materiais visualmente artificiais, como o plástico, que é um material do nosso cotidiano de fácil reconhecimento visual", disse a geóloga. Na época da publicação do artigo, a pesquisadora já demonstrava preocupação de que o material se espalhasse pela ilha. Fato que foi comprovado em uma atualização da pesquisa de Fernanda ao voltar em 2024 para Trindade. "A poluição plástica está a caminho de se tornar parte do registro biológico, preservado na história da terra. No futuro, ficarão registrados nas camadas geológicas como um testemunho permanente e preocupante do impacto humano na natureza", apontou. Rochas de plástico encontradas na Ilha da Trindade, Espírito Santo Fernanda Avelar Grande quantidade de lixo é encontrada na Ilha da Trindade, Espírito Santo Ramon Porto/TV Gazeta e Mariana Ughini/ICMBio VÍDEOS: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

FONTE: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2025/10/12/lixo-cria-rochas-de-plastico-e-ameaca-arquipelago-quase-inabitado-mais-distante-da-costa-brasileira.ghtml


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